Orgânicos: de onde vieram e por que são necessários
Você já se perguntou de onde veio e como foi produzido o que irá comer na sua próxima refeição? Cada verdura, grão, fungo ou proteína animal precisou de uma longa cadeia produtiva para chegar até o seu prato, envolvendo uma série de variáveis, desde os cuidados com as sementes, a irrigação das mudas e a colheita cuidadosa até a distribuição por parte dos fornecedores. Analisando este complexo processo, quando vemos apenas a vermelha e suculenta rodela de tomate na foto do cardápio, muitas vezes esquecemos de um componente muito importante na equação, mas que passa despercebido aos olhos do consumidor: o agrotóxico.
De acordo com a legislação brasileira (Lei 7.802/1989), tal termo, conhecido popularmente como “veneno” ou propagado pelas empresas produtoras como “defensivo agrícola”, nada mais é do que o agente de um processo físico, químico ou biológico responsável por preservar a cultura principal de seres vivos considerados nocivos, sejam eles insetos, fungos, bactérias ou mesmo outras espécies de plantas, denominadas “daninhas”. O contato com estes agentes, de maneira indireta através do consumo de água e/ou alimentos contaminados, ou direta pela exposição ao produto durante sua aplicação, pode causar diversas doenças, com efeitos agudos ou crônicos, além de contribuir para a intervenção em nossas fauna e flora, reduzindo a biodiversidade.
Desde o início da Revolução Verde, na década de 60, o Brasil é um recordista no uso de agrotóxicos em suas plantações, e este número vem aumentando nos últimos anos. Só em 2019, foram aprovados 474 novos agrotóxicos, muitos dos quais com comercialização proibida até mesmo em seus países de origem, devido ao potencial toxicológico que apresentam. Como se não bastasse, em 2020 este número subiu em 19 unidades, batendo o próprio recorde do ano anterior, com aprovação de novas 493 formulações (MAPA, 2020). Em meio a tanta desesperança, como escapar desta realidade?
Existe um sistema especializado em produzir ecologicamente, que alimenta de forma saudável e sustentável milhares de pessoas todos os dias. A agricultura orgânica, seja ela agroecológica, biodinâmica, natural ou proveniente de permacultura, é uma ciência baseada no respeito à natureza, com princípios que evocam uma melhora do sistema produtivo como um todo, de forma a recuperar e conservar os recursos naturais, desenvolvendo as comunidades rurais e urbanas e restabelecendo nosso contato com o meio ambiente.
Mais do que o anonimato, esta forma de agricultura enfrenta diariamente uma árdua batalha contra a desinformação, lutando com a afirmação amplamente difundida de que estes tipos de alimentos são sempre mais caros, pouco acessíveis e inviáveis para produção em larga escala. Felizmente, graças ao esforço dos produtores, à divulgação de novas pesquisas científicas, ao surgimento de legislações específicas e à procura por alimentos saudáveis partindo de boa parte da população, temos hoje em dia uma perspectiva potencialmente favorável para o crescimento desta forma de agricultura no cenário mundial.
Mas como saber quais produtos são realmente produzidos ecologicamente?
Existem diversas formas de garantir a procedência dos produtos orgânicos. A legislação brasileira (Lei 10.831/2003) atualmente elenca dois tipos de certificação: participativa, através de OPACs, em que os próprios produtores visitam as propriedades uns dos outros para fiscalizar o manejo e compartilhar dicas de cultivo; e por auditoria, que envolve a fiscalização através de empresas e profissionais autorizados. Este último é facilmente encontrado em mercados e grandes distribuidoras, com selo de garantia emitido pelo MAPA. Geralmente, estes produtos vêm muito bem embalados e identificados, em prateleiras separadas dos convencionais para evitar a contaminação, e em parte apresentam preços mais elevados devido a estes cuidados extras, além, é claro, da visão empreendedora das grandes redes de supermercado, que, conhecendo sua clientela, não hesitam em aumentar os preços para quem pode e não se importa em pagar (muito) a mais para se alimentar de forma saudável.
Já os produtos certificados através de um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC) podem ser encontrados em feiras, colhe-pagues, sites de entrega a domicílio e lojas autorizadas, sendo isentos da necessidade de selo e embalagem específica. Uma das vantagens destes sistemas é diminuir a distância entre o produtor e o consumidor, tornando mais viável a comunicação entre ambos e possibilitando que mais pessoas, de diferentes classes sociais, tenham acesso a alimentos de qualidade, e com muito mais diversidade. Desta maneira, valorizamos a economia solidária e local, e de quebra ainda vamos aprendendo aos poucos que frutas ou verduras são produzidas em diferentes épocas do ano, desenvolvendo um novo olhar sobre nossa relação com o consumo.
Por isso, fique esperto: consulte em sua região onde ficam os pontos de venda de orgânicos mais próximos, converse com os produtores, ajude a cobrar os órgãos competentes, fique atento às consultas públicas que ocorrem em torno do tema, faça a diferença! Dê uma chance para quem trabalha diariamente para garantir um futuro saudável para todos.
Chega de veneno no prato! Vamos juntos plantar essa sementinha de esperança!
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